quinta-feira, 13 de abril de 2017

Estigma e tabu, sim!

Parabens pelo projecto, vou querer assistir quando sair.
Porque ainda é sim um tabu e, sobretudo, quase um estigma. Quem me conhece sabe que nunca quis ser mãe nem me identifico e há sempre aquele "olhar de lado", aquele carimbo de "egoista" quando o afirmo. Mais jovem havia sempre a sentença "não sabes o que dizes! Todas nascemos para isso! Com o tempo vais entender". Foi preciso chegar aos quase 30 para que um familiar admitisse "Bom, de facto acho que és assim e nunca vais querer a maternidade na tua vida".
Lembro-me, em pequena, de quando as minhas Barbies adotavam as Shellys. Lembro-me de dizer, ao brincar com o meu Nenuco, que ele era adoptado. Desde sempre recordo do choque que era para mim ver uma grávida, uma pessoa dentro de uma pessoa e nunca ter conseguido tocar na barriga de uma. E isto prolongou-se.
Não afirmo que NUNCA serei mãe. Seria uma ignorancia tremenda. Não posso adivinhar o futuro mas arrisco-me a dizer que sinto quase a certeza que nunca serei. Porque no meu caso a questão é mesmo muito clara: não gosto de crianças. Não sei lidar com elas, não me sinto confortavel perto delas. Logo, não quero ter uma minha. Também me faz confusão a gestação, evito grávidas.
Com isto não significa que maltrate criancinhas ou que seja a bruxa da Bela Adormecida! Mas sei, bem dentro de mim e desde sempre, que não quero um bébe. Amo pagar bilhetes de avião e não fraldas; estou plenamente apaixonada pelos meus gatinhos; quero ser a tia porreira que aparece no verão para levar os putos (já crescidinhos) à praia.
Eu sou madrinha e, modéstia à parte, a melhor. Tenho uma afilhada de 11 anos com a qual mantenho desde sempre uma relação de amizade, confidencia e muito amor. Todos os verões tiro 1 semana de férias para ela, para fazermos o que ela decidir. Ela conta-me nas suas paixonetas, levo-a de compras, incentivo-a a sonhar. Mas, ainda assim, não quero uma princesa destas para mim. Nunca quis.
A mulher é um ser como outro qualquer com ambições e sonhos que nem sempre passam por dar uso ao útero. Chega de diminuir a mulher a esta imagem de reprodutora da semente do homem!

1 comentário:

  1. Isto advém de dois problemas maiores que têm grande prevalência na sociedade: um deles é o eterno machismo e a redução da mulher a uma série de estereotipos e o outro é o facto de muita gente se sentir no direito de legitimar ou não as escolhas de vida dos outros e de ainda existir muita gente insegura (especialmente mulheres, pela forma como têm sido tratadas nos últimos séculos) que aceitam que comentem as suas escolhas.

    Acho este tipo de projeto tão importante! Quebrar estes tabus é para muitas pessoas uma questão de vida ou morte no sentido em que viver numa depressão a tentar corresponder às expectativas alheias é quase como não viver. Também não tenho instinto maternal e é algo que não faz parte dos meus planos. Como tu, não digo nunca porque aceito que posso mudar muuuuuuito, mas à primeira crítica ou comentário desagradável sou menina para tratar mal quem se atrever.

    ResponderEliminar