quarta-feira, 5 de abril de 2017

De Itália III

Pádua

Houve 2 momentos que se destacaram de toda a minha viagem de 3 semanas pelo norte de Itália, sozinha e um deles, o mais marcante, foi em Pádua.
Inicialmente, a primeira impressão não é muito estimulante. É uma cidade pequena, com poucas pessoas, alguma emigração, prédios mais feios e degradados, pessoas mais fechadas. Passei um dia tranquilo, vi algumas coisas, sem pressa, sentindo que também não haveria muito para ver. Recomendo vivamente a Capela Scrovegni, com uns belissimos frescos do Giotto. Foi a surpresa artistica de Pádua!








Já ao fim do dia, um amigo mandou-me uma sms emblemática, "Não saias daí sem ver o St António. E trás o gajo que ele ficou perdido por essas bandas". Não entendi. Perguntei-lhe ao que se referia e lá me disse, muito sucintamente, que o famoso St António de Lisboa, o das sardinhas, festas, noivas e manjericos, estava enterrado em Pádua. Não dei muita importancia à coisa, afinal não tenho motivos para adorar um santo casamenteiro e nem sequer sou católica. Mas por curiosidade lá decidi ir ver a igreja dele. E tinha de ser breve porque em 30min partia o meu ultimo comboio para Verona. Mas eis que tudo mudou e tive de ligar para Verona a desmarcar o hostel.
Entrei naquela igreja enorme, colorida, sem talhas douradas, sem o ar assustador e pesado que caracteriza todas as igrejas e... desatei a chorar. Não sei que aconteceu, mas chorei. Serenamente, sem expressão, as lágrimas caiam e caiam. Sentei-me um pouco para me recompor, sem entender que se passava comigo. Depois, mais calma, lá prossegui a visita, vi a lingua exposta (parece que quando desenterraram St António, o corpo estava já decomposto mas a lingua intacta, considerando-se milagre e sinal de que proferia de facto as palavras de Deus em vida). Encontrei um padre português, da Covilhã com quem conversei um pouco e fui para o hotel, com a sensação gritante, uma certeza interior, de que deveria voltar no dia seguinte. Assim fiz.


Voltei, dia 15 de fevereiro. A igreja estava cheia. Nas capelinhas laterais estavam a acontecer inumeras actividades e eu parei diante de uma muito pequena onde, em grupos de 7 ou 8 pessoas, se ia dando a benção em latim. Eu estava cá atrás, a observar os frescos, quando o padre me chamou. Todos me olharam. Até eu pensei que fosse engano. Chamou-me, olhou-me com estranheza, deu-me a mão, perguntou-me de onde era. Assim que respondi Portugal, tambem ele falou português. Ao que parece durante 10 anos foi capelão do IPO de Coimbra. Aproveitou para contar a todos os presentes que St António era portugues e como foi toda a sua jornada até Pádua. Conheci assim a sua biografia (que já agora, nada tem a ver com casamentos). Soube que dia 15 de fevereiro era um dia santo por ser o aniversário do seu desenterramento e era designado "Dia da Lingua". Depois disse-me que eu tinha uma alma diferente e deu a missa de mão dada comigo. Despediu-se pedindo-me um abraço e desejando-me toda a sorte do mundo.
E benzeu-me, claro. Duas vezes. Não sei porquê. Trouxe de lá um fio de prata abençoado com uma medalhinha que agora tenho sempre ao pescoço. A partir de aí toda a minha viagem mudou e não voltou a ser a mesma. Tive outros "encontros" estranhos com St Antonio, conheci outros religiosos que vinham ter comigo por temas relacionados a ele, recebi inumeros sinais, tive uma má atitude com umas pessoas e perdi a medalha (a qual apareceu 12h depois colada à minha pele, no peito, depois de eu ter tido uma atitude muuuito boa com um desconhecido... coincidencia? E nessas 12h já eu tinha tomado banho, dormido, mudado de roupa... era impossivel a medalha estar ali). Numa igreja franciscana em Ravenna, inundada, com peixinhos, quando me aproximei e olhei a água todos os peixes vieram ter comigo. Os outros turistas intrigados tiraram imensas fotos e veio um Sacerdote dizer-me, do nada, que eu parecia o St Antonio no seu sermão aos peixes (cabeça a minha... nunca tinha associado que o St António também era ESSE St António). Sendo que o meu signo também é peixes e peixes é o primeiro simbolo cristão usado na época de Jesus. O meu próprio nome tem uma origem latina única e religiosa.


Ok... agora estarei a ser julgada por quem lê isto, achando-me louca, possivel cartomante e esquizofrenica. Eu, zero cristã, também me tenho questionado muito sobre tudo isto, sobretudo depois de outras coisas fortes que me aconteceram e prefiro não partilhar. Dizem os meus mestres de Reiki que o St António poderá ser meu guia, que poderemos ter energias parecidas e atraimo-nos naquele local onde repousam os seus restos mortais ou que noutra vida nos conhecemos. Eu não sei, a espiritualidade e a religião têm muitas vertentes. Só sei que depois disto estou aberta a novas percepções e tornei-me atenta a este Santo, cada vez mais curiosa para descobrir mais e mais, sobretudo a minha ligação com ele.

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