domingo, 6 de dezembro de 2015

No pain no gain




Uma amiga psicóloga disse-me que eu adoro a dor, que tenho a capacidade de a transformar e valorizar sempre positivamente. E pediu-me para pensar na quantidade de vezes que digo coisas como "adoro cicatrizes" ou aconselhando alguém digo "Como não queres sofrer?!? Somos tão jovens, temos imensas quedas e dores pela frente! Vai ser incrivel!".
E notei que ela tem mesmo razão.
Faz-me confusão quando vejo pessoas em situações penosas, em ciclos viciosos só porque terminar com aquilo vai custar, vai doer. E depois? A dor é positiva. A dor faz crescer, trás memórias, abre horizontes. Não querer sofrer é como não querer viver. Não que a vida seja um eterno sofrimento mas viver, viver de verdade, significa entrega. E quem se entrega a sério, sem reservas, alguma vez se estilhaça.
Afinal, só sofre por amor quem amou sem reservas. Só sente medo quem arriscou à grande. Só dói, quando tentamos.
Ah e tal em caso de dúvida fico quieto que é para não dar merda. Essa, meus amigos, é a merda maior. Ficar quieto? Claro. E chegamos a velhos sem memórias, sem sentir o sabor de nada.
Eu afirmo-me sempre como alguém sem arrependimentos e quero morrer assim. Se há coisas na minha vida que deveria ter evitado, lidado de outro modo ou mais valia não ter-me metido nelas? Claro. Mas de algo serviu a experiencia, certamente. Só isso já valoriza os actos.
Que venham muitos e muitos anos de quedas, de medos, de coisas intensas que me obriguem a agir, a acordar.
E que dentro de umas décadas tenha umas magnificas rugas e saiba amar cada cicatriz em mim.


2 comentários:

  1. É engraçado porque, do que leio e não te conhecendo pessoalmente claro, tinha a ideia oposta. :) É verdade que te entregas sem reservas mas fico sempre com a sensação que não estás à espera da dor, da queda, das dificuldades, e que não sabes lidar com ela, ficando deprimida facilmente. Por exemplo, lutaste imenso para ires para Lisboa. Mal chegaste e viste que não era como esperavas, deprimiste, quiseste desistir, viste tudo negro, ias dando cabo de tudo. Agora contas que te voltaste a levantar, arranjaste trabalho, retomaste os estudos, conseguiste o crédito...e eu admito que assim que li isto pensei "e brevemente teremos uma Raven desiludida com o trabalho, chateada com o curso, infeliz com o crédito, deprimida novamente com a vida....". Não que te deseje isto, longe de mim, acredita :), mas tu és daquelas pessoas que eu diria viver num verdadeiro ciclo vicioso: lança-se à aventura cheia de positivismo, desilude-se, deprime, levanta-se a lança-se à aventura cheia de positivismo, desilude-se, deprime, levanta-se e....sempre assim. :) Mas esta é obviamente a análise que faço apenas da leitura do teu blog. :)

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    1. Tete... tiraste-me umas belas gargalhadas! Adorei o teu comentário. E digo-te mais: tens 100% razão! Ou seja, deixa lá ver se me consigo expressar bem: eu sou completamente viciada em aventura. O meu lema é: em caso de dúvida, lanço-me. Em algum sitio hei-de cair. Mas sonho muito e entrego-me mais ainda e depois aborreço-me. Tudo tem prazo de validade para mim. E começo a sentir-me infeliz e entrego-me a essa infelicidade tanto quanto à alegria. E é até me esgotar a mim mesma com tantas voltas que dou ao assunto e arriscar de novo. Mas no meio disto tudo, acho que a dor e a insatisfação já fazem tão parte de mim que as adoro. Aliás, é graças a elas que sempre avanço de novo.

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