quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Sobre não abrir mão de si mesmo


Hoje, na minha novela querida “Lado a Lado”, não pude deixar de me rever numa das cenas. Um dos casais protagonistas viu o seu casamento chegar ao fim. Eles amam-se. Como se amam! Mas ela já não é feliz com ele, as opções dele deixam-na nervosa, angustiada, fazem-na ser outra pessoa, alguém que ela não é nem quer ser. Então, com lágrimas nos olhos e o coração pequenino, ela avança e pede o divorcio frisando o quanto o ama mas também o quanto esta decisão é necessária.
Deve ser mais fácil colocar um ponto final quando se é traído, agredido. Dói a desilusão, a mágoa mas sabemos que o outro certamente não nos merece! E o orgulho e a necessidade de agir tomam conta da situação. Mas quando há amor de ambas partes mas somos orbigados a encarar que não resultou, isso sim mata, destrói, estilhaça. É a plena noção que falhamos, que nos dedicamos, que ainda estamos de corpo e alma naquele projecto a dois mas que não temos mais chão nem paredes. É ver ainda o nosso coração nas mãos do outro mas saber que ele está suspenso, em risco.
Após quase 10 meses do fim da minha relação, onde já se decidia data de casamento, tenho o distanciamento preciso para afirmar que agradeço muito ao meu ex companheiro ter decidido acabar. Ambos sabíamos que era já inevitável mas eu não tinha coragem de tomar a decisão. Ele teve.
Penso nisto agora, ao ver a novela a apos ter recebido umas mensagens do João, umas mais calmas, em tom de desabafo, outras arrogantes, em tom de mágoa e ego, porque é preciso ter muita segurança e amor próprio para colocarmos a razão, o bem estar, acima do Amor. Poucos o conseguem fazer. E é preciso distanciamento, calma e verdade para se assumir que ainda se ama alguém mas que a decisão foi necessária. Não mandamos nos nossos sentimentos mas podemos assumi-los com clareza, com pulso e aprender a viver com eles. Até amores perdidos. É respirá-los, deixa-los acomodarem-se cá em casa, até que um dia decidam partir.
Eu vivo com um sentimento em vias de extinção (esperemos que definhe brevemente). Mas aceito-o, agradeço a sua existência, as memórias que me traz e convido-o a partir, porque a Vida é assim, cíclica. E agradeço mais ainda ter podido viver um Amor assim, mútuo, com alguém que apesar de não ter conseguido, tentou lutar e chegou a mudar toda a sua vida por mim. Só amores assim, intensos, valem a pena. Vale a pena saber que ainda sou amada, ainda que em vias de extinção, por alguém que deu tudo por mim.

E que a espécie se extinga de vez para ambos! Mas que acima de tudo possamos respeitar os sentimentos que ainda temos, deixa-los partir e encontrar novos sabores. Obrigado pelas mensagens João, desculpa se fui distante e fria mas agora é a minha vez de ter a coragem que te está a faltar. O amor é bonito mas quando não funciona só piora. Foi catártico ter sentido um grande nervoso no estomago ao ver umas fotos tuas numa rede social de um amigo. Foi notório os sentimentos que ainda tenho. Mas felizmente, foi ainda mais notório a minha firmeza e dignidade.
Até um dia, sem amor nem constrangimentos. 

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