Estão a ler esta frase?
Basicamente é isso.
Em algum momento
aquele/a ex que agora vos irrita e vos faz sofrer e vos faz pensar “Como é que
eu namorei com aquilo?” foi o vosso porto seguro, o motivo dos vossos sorrisos,
a inspiração em cada ideia romanticó-pirosa, o criador/a dos vossos orgasmos.
Então, (a não ser que ele / ela vos tenha traído ou agredido), porque tanto
ódio e desrespeito no fim? Porque achamos que só nós sofremos?
Uma amiga terminou
agora uma relação de 4 anos e sinto-me bastante chocada com a atitude dela.
Optou por viver em versão Hollywood (não se divertir mas comparecer em todos os
eventos só para ter reportagem que comprove a sua presença), colocar fotos
provocantes no Facebook acompanhadas de frases duvidosas que dão a entender que
ela é a mais linda e maravilhosa e feliz criatura de sempre, escreve frases de
duplo sentido com iniciais e nomes masculinos no fim. E tudo isto para?
Basicamente para que o pobre do ex veja nas redes sociais o quanto ela já
superou, o quanto ela está bem e feliz e o quanto, possivelmente, ela já arranjou
mais 5 pra ocupar o lugar dele.
Os outros não sei, mas
eu acho bastante obvio este circo todo, parece-me bem visível que isto é uma chamada
de atenção de alguém que se sente vazia e carente. Porque quem é mesmo feliz
não tem tempo para provocar e mostrar e, no caso dela, construir uma maquete 3D
de toda a sua enooooooorme “felicidade”.
O que mais me
impressiona é a vergonha de ser deixada. Noto isso em bastantes pessoas. Quando
uma relação termina, afirmamos sempre que fomos nós que terminamos. Porquê
isso? Não basta a dor, ainda temos que ser orgulhosos? Esta minha amiga,
sabendo eu que o rapaz terminou tudo, afirma a pés juntos que se “enjoo” da
relação e acabou com tudo. Enjoo? E o amor que é amor lá enjoa?!? E pressionada
por todos nós, que lançamos teorias para o ar, ela lá soltou o ego ferido e fez
o pior: mentir para ficar bem na foto. Disse que “o amor acaba quando nos
levantam a mão”. Primeiro: ridículo! O ex dela é uma mosca morta que ela sempre
comandou, estou até admirada de ter sido capaz de terminar a relação. Segundo:
há tanta vitima de agressão e violência domestica a declarar amor pelos
agressores e ela, após 4 anos e muita obsessão, descobriu à primeira briga mais
problemática que já não ama?
Assistir a este
episodio de perto faz-me pensar muito. O ser humano está completamente entregue
ao amor rápido e descartável, ao poder do ego e mentimos com medo das opiniões
alheias. Não chega o nosso sofrimento? Não chega termos o coração desgarrado,
sabermos que falhamos num projecto a dois em que nos doamos por inteiro até mal
conseguirmos respirar? Não basta ter que lidar com as lágrimas, o sentimento de
vazio e o medo a recomeçar? Ainda temos que mentir e aumentar a historia até
sufocarmos na nossa vaidade?
E o respeito pelo
outro? O outro que também sentirá exactamente o mesmo que nós, que terá as
mesmas noites em branco connosco em mente, que sorriu para nós, que viu em nós
Amor e futuro.
Por isso eu estou de consciência
tranquila. Agradeço de coração a cada pessoa que passou na minha vida. Namoros
tive 2, muito diferentes, com pessoas antagónicas mas às quais desejo as
maiores felicidades e respeito por tudo o que me proporcionaram e fizeram
sentir. Nunca provoquei ninguém, nunca tentei espezinhar um ex, nunca quis
aparentar o que não sentia. Após uma relação devemos fazer o luto da mesma e
deixar que a vida nos leve e nos mostre outras paragens e não ficarmos agarrados
a sentimentos menos humildes.
Espero que a minha
amiga cresça e amadureça e espero eu conseguir sempre ser grata ao passado e
aceitar e compreender a dor do outro como minha.
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