quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Do desrespeito

Estão a ler esta frase?


Basicamente é isso.
Em algum momento aquele/a ex que agora vos irrita e vos faz sofrer e vos faz pensar “Como é que eu namorei com aquilo?” foi o vosso porto seguro, o motivo dos vossos sorrisos, a inspiração em cada ideia romanticó-pirosa, o criador/a dos vossos orgasmos. Então, (a não ser que ele / ela vos tenha traído ou agredido), porque tanto ódio e desrespeito no fim? Porque achamos que só nós sofremos?
Uma amiga terminou agora uma relação de 4 anos e sinto-me bastante chocada com a atitude dela. Optou por viver em versão Hollywood (não se divertir mas comparecer em todos os eventos só para ter reportagem que comprove a sua presença), colocar fotos provocantes no Facebook acompanhadas de frases duvidosas que dão a entender que ela é a mais linda e maravilhosa e feliz criatura de sempre, escreve frases de duplo sentido com iniciais e nomes masculinos no fim. E tudo isto para? Basicamente para que o pobre do ex veja nas redes sociais o quanto ela já superou, o quanto ela está bem e feliz e o quanto, possivelmente, ela já arranjou mais 5 pra ocupar o lugar dele.
Os outros não sei, mas eu acho bastante obvio este circo todo, parece-me bem visível que isto é uma chamada de atenção de alguém que se sente vazia e carente. Porque quem é mesmo feliz não tem tempo para provocar e mostrar e, no caso dela, construir uma maquete 3D de toda a sua enooooooorme “felicidade”.
O que mais me impressiona é a vergonha de ser deixada. Noto isso em bastantes pessoas. Quando uma relação termina, afirmamos sempre que fomos nós que terminamos. Porquê isso? Não basta a dor, ainda temos que ser orgulhosos? Esta minha amiga, sabendo eu que o rapaz terminou tudo, afirma a pés juntos que se “enjoo” da relação e acabou com tudo. Enjoo? E o amor que é amor lá enjoa?!? E pressionada por todos nós, que lançamos teorias para o ar, ela lá soltou o ego ferido e fez o pior: mentir para ficar bem na foto. Disse que “o amor acaba quando nos levantam a mão”. Primeiro: ridículo! O ex dela é uma mosca morta que ela sempre comandou, estou até admirada de ter sido capaz de terminar a relação. Segundo: há tanta vitima de agressão e violência domestica a declarar amor pelos agressores e ela, após 4 anos e muita obsessão, descobriu à primeira briga mais problemática que já não ama?
Assistir a este episodio de perto faz-me pensar muito. O ser humano está completamente entregue ao amor rápido e descartável, ao poder do ego e mentimos com medo das opiniões alheias. Não chega o nosso sofrimento? Não chega termos o coração desgarrado, sabermos que falhamos num projecto a dois em que nos doamos por inteiro até mal conseguirmos respirar? Não basta ter que lidar com as lágrimas, o sentimento de vazio e o medo a recomeçar? Ainda temos que mentir e aumentar a historia até sufocarmos na nossa vaidade?
E o respeito pelo outro? O outro que também sentirá exactamente o mesmo que nós, que terá as mesmas noites em branco connosco em mente, que sorriu para nós, que viu em nós Amor e futuro.
Por isso eu estou de consciência tranquila. Agradeço de coração a cada pessoa que passou na minha vida. Namoros tive 2, muito diferentes, com pessoas antagónicas mas às quais desejo as maiores felicidades e respeito por tudo o que me proporcionaram e fizeram sentir. Nunca provoquei ninguém, nunca tentei espezinhar um ex, nunca quis aparentar o que não sentia. Após uma relação devemos fazer o luto da mesma e deixar que a vida nos leve e nos mostre outras paragens e não ficarmos agarrados a sentimentos menos humildes.
Espero que a minha amiga cresça e amadureça e espero eu conseguir sempre ser grata ao passado e aceitar e compreender a dor do outro como minha. 

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