Não dormi nada e o
pouco que dormi, sonhei com o passado.
“Só é inteiro quem um
dia já foi cacos”. Gosto muito desta frase e acordei com ela em mente.
Juntei todos os meus
cacos e exorcizei-os noite dentro. Vi, revi, senti, questionei, culpei-me,
culpei, enchi-me de mágoa. E acordei triste, ansiosa, peito pesado, pensando no
quanto queria voltar a dormir em conchinha contigo, com aquele teu hábito
amoroso de me beijar as costas cada vez que eu me mexia. Beijaste-me as costas
durante 3 anos. Cozinhaste para mim, deste-me banho. Saíste de casa por mim,
enfrentaste as tuas raízes. Mas lamentaste-o. E eu sofri e tu sofreste. E
entendo agora que só quando te perdoar, quando compreender a minha parte de
culpa nisto tudo, quando aceitar e deixar ir, é que poderei respirar em paz.
Hoje, passados quase 8
meses do fim, tive um ataque de ansiedade. Faltei ao trabalho, fui às urgências,
perdi o dia. Não chorei. Não tive essa vontade em momento algum. Simplesmente
sofri, ansiosa e secamente. Acho que deve ser o que acontece quando aprendemos
a viver com a dor. Ou quando simplesmente nos acostumamos.
Voltei para casa eram
ainda 15h e deitei-me. Intercalei o sono com séries e dormi muito, senti-me zonza,
sem forças, questionei a minha Vida, este recomeçar do zero nesta cidade, sem
ninguém. Sou muito grata por poder recomeçar aqui, num sitio que gosto, longe
de tudo. Mas ainda assim, tanta solidão, dá-me demasiado tempo para questionar.
E ainda sabendo que nunca seriamos felizes, que coisas muito graves aconteceram
e que o desfecho foi inevitável, dou por mim hoje a sentir tanto mas tanto a
tua falta. Dou por mim fechada, selada, a desejar-te e a expulsar todos os que
tentam aproximar-se.
Também terás os teus
momentos duros em que a minha ausência não te deixa respirar? Por vezes,
imagino que para ti seja ainda pior. Ficaste a viver na casa escolhida e
mobilada por mim, com o trabalho que eu te consegui. Tudo em ti partiu de mim.
Secretamente, desejo que estejas pior que eu, a sufocar, ainda a amar-me.
Far-me-ia sentir menos mal. É mesquinhes, eu sei. E acredita que não quero ser
mesquinha nem odiar-te. O ódio só serve para te manter vivo em mim de forma
mais intensa que o amor.
Mas eu perdi hoje
dinheiro, um dia de trabalho, por ti. E tu? Sei que jamais perderias um petisco
por tristeza. És mais duro, muito mais duro. Não sei se é teatro, uma qualidade
ou outra coisa, mas certo é que não deixas a tua rotina por ninguém. E deixa-me
dúvidas: és muito forte e sofres por dentro ou simplesmente enterraste o
passado e não te abala mais?
Eu sou assim, um
pequeno espelho. Transbordo cada pedaço, cada recanto meu. Não consigo camuflar
o sofrimento. E hoje dói demais.
Tu vê lá se te amas. Ama-te, adora-te, respeita-te.
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